A ARTE NOS TEMPOS

Acd. Mário P. Scherer Cad.04 - AMLERS

A Arte com o passar dos tempos sofre alterações. Algumas vezes aperfeiçoando-se, outras, declinando no seu compromisso com a Beleza, através de múltiplas mudanças sociais.

Ainda hoje podemos nos surpreender com a beleza, com o colorido e as formas que nos mostram a Arte Rupestre.

Como podemos imaginar um artista de 40.000 anos A.C. criando imagens coloridas nas paredes e tetos de cavernas? Estas Artes cumpriram sua missão maior, atravessar os tempos, vindo enriquecer nossa busca pelo belo.

Recordemos os Artistas do Renascimento, Michelangelo, Rafael, Leonardo da Vinci, e tantos outros que se tornaram imortais, através de suas artes.

Escritos e escritores famosos, Ilíada, Odisséia, Dom Quixote. Lusíadas, Shakespeare, Dante, Camões...

Estes artistas que nos antecederam, mostraram um caminho. Tinham suas formas, estilos, compromissos com a Arte.

Em 1334, Francesco Petrarca, cria o Soneto, com 14 versos, com rimas em decassílabos, dez sílabas poéticas em cada um dos versos, com rimas combinadas, nos dois quartetos e dois tercetos. Petrarca criou mais de 300 sonetos que se espalharam por toda a Europa. Em 1500, mais ou menos, chegava na Inglaterra, onde entre outros, Shakespeare criou 152 sonetos, que sofreram algumas mudanças na apresentação. Continuavam com 14 versos, mas sem os espaços entre os quartetos, sendo 3 quartetos , com rimas separadas entre si, e um dístico final, que seria a moral do soneto, digamos assim.

No Brasil tivemos grandes e marcantes poetas: Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu, Castro Alves, Olavo Bilac. Peço perdão por não citar outros, mas não podemos deixar de lembrar Vinicius de Moraes.

Mas, os tempos mudam. Na nossa atualidade, existem movimentos que desejam protestar contra a capacidade de apenas alguns serem considerados Artistas. Desejam democratizar a arte, digamos assim, permitindo que qualquer pessoa demonstre sua forma de ver, como Marcel Duchamp e sua famosa fonte, que era um vaso sanitário, que acabou abrindo as portas para artes de protesto, onde a beleza não era o mais importante, ou não teria importância alguma, elevando o Protesto disseminado contra as formas exigidas pela Arte.

Mas, proponho falarmos, voltados à nossa época, em poemas, e em poesia.

Os poemas, hoje, sofreram mudanças radicais. Foi aceito poemas onde não há formas, rimas, e determinadas Escolas. Hoje se aceitam poemas sem métrica alguma, ou rimas.

Porém, mesmo aqueles que aderem a estes novos estilos de poemas, livres de normas, devem buscar a Poesia.

Erroneamente costuma-se dizer – vou fazer, ou fiz uma poesia.

A proposição é fazer um poema, e buscando colocar poesia nele.

Alguns escrevem frases, uma embaixo da outra, sem rimas, sem rumo, sem poesia.

O que se deve buscar é uma linguagem poética, uma visão diferenciada do comum, a beleza disseminada em qualquer fato ou objeto.

Um poema não pode ser apenas uma catarse, um queixume, ou louvação. Deve conter poesia.

Para dar um exemplo de figuras poéticas, vou lembrar uma cantora/compositora, Dolores Duran, que nos mostra criações com uma Linguagem poética, nas suas composições. 

Exemplo:

Hoje eu quero a paz de crianças dormindo...
Quero ternura de mãos se encontrando, para enfeitar a noite do meu bem...
Quero a alegria de um barco voltando...

Vamos imaginar que um barco da marinha partiu para guerra e meses e meses depois, regressa. Imaginemos, no porto, a alegria dos parentes aguardando a volta de seus filhos, etc.

Quem escreve, deve ter em mente, que aquele livro, não é dele, é do leitor. Se ele escreve algo triste, ou divertido, ou profundo, tem o compromisso de que o leitor se envolva naquilo e sinta o que o escritor desejou transmitir. E mais, o compromisso do escritor, seja qual for seu estilo, é com o Tempo. Escrever, também, para as futuras gerações, semear grandes figueiras que enfrentarão floridas os tempos.

Para finalizar desejo relembrar um poeta em toda sua forma de ser.

Ainda vejo ele passeando na rua da Praia (não Andradas). De mãos nos bolsos e um sorriso disfarçado nos lábios.

No final de sua vida, visitei-o um dia, e disse a ele, que eu lera um poema seu no Correio do Povo, há trinta anos, quando eu teria quatorze anos, e que jamais esquecera do mesmo.

E recitei para ele, dizendo: talvez nem te lembras dele, mas eu jamais esqueci:

O meu amor Maria, é como um fio telegráfico, onde vem pousar as andorinhas. De vez enquanto vem uma, pousa, e vai embora. Vem outra, pousa, canta e vai embora. A última que pousou, limitou-se a fazer cocô no meu pobre fio de vida. Mas, Maria, o meu amor é sempre o mesmo, as andorinhas é que mudam.....

Ele sacudiu a cabeça e sorriu...


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