Promovido
pela Prefeitura de Farroupilha e Biblioteca Pública Municipal Olavo Bilac, de
Farroupilha
2º Lugar
na Categoria 4, com a crônica MOZART E EU - Albino César Moraes da Rosa
"Sento
em frente ao computador para escrever, como faço frequentemente. A página está
em branco e o cursor do editor de textos pisca impaciente na 1ª coluna da 1ª
linha.
Pressiono
o "play" do CD Player e após alguns instantes o som do teclado do
piano de uma famosa intérprete de Mozart irrompe em cadências hipnotizantes
contrastando com as letras imóveis do teclado do meu computador. As notas musicais
parecem flutuar e rebater nas paredes, uma após a outra, em fila indiana,
projetando no espaço um emaranhado de rabiscos pós-modernos, como se os
alto-falantes as arremessassem por pura diversão.
Logo o
violino de um conhecido músico inicia firmemente a sua parte no belíssimo
dueto. Mozart. Genialidade pura. Divina inspiração. O papel virtual do meu
editor de textos continua em branco e o salva-telas, com seus polígonos
multicoloridos, entra em cena apagando, aos poucos, a vã esperança de vida do imóvel
cursor.
O piano e
o violino conversam ao mesmo tempo em que ambos preparam o seu monólogo
desafiador. As linhas coloridas do salva-telas debatem-se nos cantos do
monitor, ricocheteando ao insólito compasso do piano, como se Mozart, ele
mesmo, as regesse na harmonia da sua música.
O ataque
do piano, em um belo "allegro con spirito", garante a alegria do
conjunto. As linhas coloridas do salva-telas saltam do monitor e tomam vida ao
meu redor. Fazem do meu quarto o seu mundo imaginário. Ao rebaterem nos cantos
do quarto apagam a existência do entorno, como a borracha extingue o traço do
lápis.
Quase que
imediatamente o violino mostra-se com vigor e o piano descansa, mantendo a base
harmônica. Mais e mais notas rebatem nas paredes, ao mesmo tempo em que os
desenhos dos polígonos, na tela gigante do meu quarto, apagam a minha
realidade. A resposta do piano não demora e estrategicamente evoca a
grandiosidade de uma vista espetacular de uma montanha, cujo pico nevado se
enrosca com as nuvens que passam.
Sem perder
o fôlego o violino delineia a paz encantadora de uma campina acariciada,
docemente, pelo vento primaveril. Maliciosamente os polígonos continuam a sua
dança ensandecida e eu quase não percebo mais o que está a minha volta.
O piano,
em resposta, faz alusão a vales verdejantes onde o rio do tempo corre
placidamente, sem pressa, e as notas vicejam com os jacintos que residem
próximos às margens.
O violino
devolve o seu som, simulando festejos e danças exóticas. No meu quarto as notas
esvoaçantes fazem par com os polígonos coloridos e todos rodopiam com acentuado
zelo ao belo som materializado na caixa de ressonância do instrumento
invisível.
O piano
inicia a sua última resposta em deliciosa vingança. Então uma soberba praia
mediterrânea toma forma com suas ondas quebrando em furioso poder e os pássaros
mergulhando em seu afã diário. A linda melodia não se detém e o dueto, agora em
fraterna harmonia, lamenta as suas derradeiras notas.
Quando dou
por mim, o sol bate no meu rosto. A brisa marítima, com o seu perfume
característico, enche os meus pulmões. A areia branca entremeia as pedras
lavadas pelas ondas que me alcançam e os pequenos seres, que vivem na orla,
apanham o seu alimento. As últimas notas do piano e do violino não mais
dialogam, mas em um coro uníssono pacificam-se mutuamente e, juntas,
homenageiam a vida em uma ode à perfeição.
Então eu
caminho sossegado admirando a paisagem. A areia premida pelos meus pés, que
imprimem colcheias e semicolcheias na pauta da eternidade, dissolve-se em contato
com as ondas, um eco das últimas notas musicais do piano e do violino. Desligo
o CD player.
A tela do
monitor está quase escura pela insistente passagem das linhas multicoloridas.
O movimento do mouse traz de volta a tela branca.
Uma vez mais o teclado rege o cursor da imaginação.
Quando sentei não sabia como chamá-lo, mas com profunda reverência iniciei a digitar:
MOZART E EU."
Albino César Moraes da Rosa - Sócio Correspondente da AMLERS em Caxias do Sul, RS.
O movimento do mouse traz de volta a tela branca.
Uma vez mais o teclado rege o cursor da imaginação.
Quando sentei não sabia como chamá-lo, mas com profunda reverência iniciei a digitar:
MOZART E EU."
Albino César Moraes da Rosa - Sócio Correspondente da AMLERS em Caxias do Sul, RS.